O game development em Portugal está bem e recomenda-se!
Sob a alçada da Square-Enix chegou-nos no passado dia 31 de Outubro Little Goody Two Shoes, a mais recente proposta do estúdio Português Astral Shift. Uma aventura fantástica com influencias Anime, que mistura horror e RPG num caldeirão mágico com bruxas, fantasia e romance.
Premissa:
Em Little Goody Two Shoes acompanhamos o dia a dia de Elise, uma jovem encontrada numa floresta pela sua avó adoptiva, perto de uma aldeia pitoresca. Após perder a sua avó, Elise vive sozinha, cuida da casa, faz tarefas para os habitantes da aldeia, abastece os seus mantimentos com o dinheiro ganho e estabelece relações sociais e amorosas. De noite, é levada para uma realidade mais negra onde pesadelos se misturam com a realidade, e forças obscuras operam. Com o risco de ser queimada viva na fogueira por alegadas práticas de bruxaria, Elise terá de desvendar o mistério sobre as forças negras que rondam a aldeia, enfrentar medos, superar puzzles e usar as palavras certas nos seus diálogos para não levantar suspeitas sobre si mesma.
Conceito do jogo:
Este é daqueles jogos difíceis de categorizar e ainda bem que assim o é. O foco é a narrativa com diálogos longos e escolhas múltiplas que culminam em 10 finais alternativos. Não há XP ou níveis nem sistema de combate, mas não deixam de haver alguns elementos de RPG. Podemos socializar e eventualmente criar relações amorosas com algumas das personagens, ganhar dinheiro através de quests diárias e comprar itens que irão repor pontos de vida, fome e sanidade. Temos ainda um sistema de “suspeita” que, uma vez, cheio, perdemos automaticamente o jogo com o desfecho de Elise a ser queimada viva numa fogueira. Para evitar-mos este final infeliz, temos de ter atenção e fazer as escolhas certas ao longo dos vários diálogos que vamos mantendo. Toda a história decorre num período de 7 dias e cada dia tem as suas fazes, manhã, tarde, meio da tarde até que chegamos ao anoitecer. Durante a noite, temos um período meio perdido num “limbo” onde Elise se vê em cenários ocultos, com criaturas sobrenaturais, puzzles, desafios e quebra-cabeças. De dia, o jogo decorre numa casa acolhedora, um bosque retirado de um conto de fadas e uma aldeia colorida e viva. De noite, Little Goody Two Shoes transforma-se num autêntico jogo de sobrevivência e terror com desafios que irão fazer o jogador puxar tanto pela sua destreza, como capacidade de raciocínio.
Jogabilidade:
Os controlos são muito básicos com pouco mais para além de andar e interagir com o ambiente em nossa volta. Temos os vários menus que dão acesso aos status dos nossos pontos de vida, fome, sanidade etc, menus de itens e um mapa com as várias áreas de jogo devidamente identificadas com os objectivos a seguir. Há um grande contraste entre os elementos narrativos e de survival horror entre os períodos diurnos e nocturnos, sendo que, durante o dia vamos desenrolando a história angariar dinheiro para nos abastecermos para os desafios que se aproximam durante a noite.
Estas tarefas vêm na forma de “biscates” que fazemos aos aldeões ajudando-os a cortar madeira, apanhar ovos no galinheiro, apanhar maçãs no pomar etc, que são jogadas em mini-jogos estilo arcade. No final de cada mini-jogo recebemos uma nota consoante a nossa pontuação, quanto mais alta for a pontuação, mais dinheiro recebemos.
A história tem várias ramificações mas não é difícil de acompanhar. As personagens são caricatas, divertidas e por vezes um pouco macabras. No fim de cada dia vêm os verdadeiros desafios onde temos diversos puzzles tanto de raciocínio como de destreza. Aconselho vivamente a gravarem o jogo SEMPRE que puderem porque este é daqueles onde vamos morrer uma…e outra vez. Estes desafios são implacáveis com algumas “cheap deaths” pelo meio, mas nada como tentativa e erro para os conseguirmos vencer. Inicialmente, tudo indicava que este ia ser o ponto negativo do jogo porque há, de facto, um grande contraste tanto a nível de dificuldade como de “passing” do jogo onde metade é muito lenta pura e simplesmente focada em diálogos, e a outra metade é passada a morrer vezes e vezes sem conta com alguns dos obstáculos mais difíceis, e por vezes frustrantes, que encontrei ultimamente num jogo indie. No final do jogo, que demorou cerca de 9 horas, fiquei com uma sensação bem agradável de concretização e entendo agora que é essa dinâmica que torna este jogo tão especial.
Gráficos e Apresentação:
Este é sem dúvida um daqueles títulos Indie que gosto de apelidar de “Neo-Retro”. Há aqui uma grande influência de videojogos do início da era dos 32-bits e uma ode aos Animes dos anos 90. Os gráficos são muito bonitos com um pixel art recheado de detalhes e cores, que contrastam na perfeição com backgrounds desenhados à mão. Mesmo os menus fazem relembrar páginas de um livro de fábulas. Temos uma sensação de acolhimento e conforto nos vários locais da aldeia, momentos fantásticos no bosque e na colina com um castelo ao fundo, e um pequeno arrepio na espinha ocasional nos momentos de terror muito bem executados. Existem algumas cutscenes, ao estilo anime, que me pareceram ter um filtro que nos dá a sensação de estarmos a ver numa televisão CRT. Estes pequenos toques e nuances entre a estética Retro mas com transições rápidas e animações fluídas, dão a Little Goody Two Shoes uma experiência nostálgica e moderna ao mesmo tempo.
Música e Sonoplastia:
Temos um tema de abertura que parece ter saído do genérico de um Anime old school. O voice acting é bem conseguido e capta bem aquele toque japonês, sendo que, temos opcção de jogar o jogo em japonês também. A banda sonora é competente, músicas simples que complementam os visuais, não senti faltava algo nem que havia algo a mais. Os sons são recheados principalmente os efeitos sonoros quando algo tenebroso acontece. Pequenos grunhidos ou passos mais presentes, enriquecem os momentos mais tensos do jogo.
Conclusão:
Little Goody Two Shoes é um jogo muito bem conseguido que consegue executar muito bem vários géneros num só. Diria que é um jogo para um gosto “mais requintado” porque nem todos vão apreciar os vastos diálogos ou a componente de uma narrativa forte, e ao mesmo tempo os que procuram esse jogo com uma cadência mais lenta, calma e imersiva, podem ser apanhados de surpresa com os puzzles e desafios difíceis que quebram esse passing mais lento.
Para quem procura um jogo Indie com uma abordagem retro, para quem quiser uma aventura de contos de fada num imaginário rico e vivo, ou para quem quiser experimentar algo totalmente diferente, este é um jogo a recomendar. É bom saber que o game development em Portugal está vivo e recomenda-se!
Vídeo da Review disponível no meu canal de YouTube:
Little Goody Two Shoes (PlayStation 5)
História - 80%
Jogabilidade - 75%
Gráficos - 95%
Som / Banda Sonora - 80%
Longevidade - 95%
85%
Muito Bom
Little Goody Two Shoes é um jogo muito bem conseguido que consegue executar muito bem vários géneros num só. Diria que é um jogo para um gosto “mais requintado” porque nem todos vão apreciar os vastos diálogos ou a componente de uma narrativa forte, e ao mesmo tempo os que procuram esse jogo com uma cadência mais lenta, calma e imersiva, podem ser apanhados de surpresa com os puzzles e desafios difíceis que quebram esse passing mais lento. Para quem procura um jogo Indie com uma abordagem retro, para quem quiser uma aventura de contos de fada num imaginário rico e vivo, ou para quem quiser experimentar algo totalmente diferente, este é um jogo a recomendar. É bom saber que o game development em Portugal está vivo e recomenda-se!
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