Essays on Empathy – Análise sem Spoiler

Confesso que a minha primeira impressão de Essays on Empathy não foi exatamente positiva. Tive alguma dificuldade em perceber o que era para fazer no primeiro jogo, de estilo plataforma/metroidvania: Underground Hangovers. Somos um mineiro pertencente a um grupo que descobre ter sido abandonado pela companhia responsável pela exploração no planeta Urult.

Não me ajeitei com os controlos e também não percebi o objetivo, mesmo tendo interesse em descobrir. Após algumas tentativas, desisti e continuei sem perceber se o problema foi meu ou do jogo.

Passei ao jogo seguinte e a minha opinião mudou completamente. E isso foi acontecendo a cada jogo que jogava. Rapidamente descobri que os contos são experiências transcendentes, sendo que me liguei mais a uns do que a outros.

Supercontinental Ltd.  foi durante a maior parte do tempo o meu jogo preferido (até ter jogado De Tres al Cuarto). Jogamos com um espião num ambiente futurista que, através de um aparelho, simula vozes para recolher informações e chegar ao seu objetivo. Temos de ir marcando números de telefone à moda antiga e reunir as pistas para o passo seguinte. Supercontinental Ltd. fez-me recordar o lendário Where in the world is Carmen San Diego, pela procura e conexão das pistas.

De Tres al Cuarto conta com uma dupla de comediantes que à noite atua num bar: Garza e Bonachera. Com o nosso baralho de cartas, temos de saber manter alta a qualidade das piadas para assim receber mais dinheiro (e autoestima). Temos as seguintes cartas:
- Blank: são cartas a evitar a todo o custo.Garza fica nervoso e não diz nada de jeito, resultando em perda de pontos.

- Punch: a punchline ideal

- Poor: uma piada mais fraquinha que dá metade da pontuação.

- Build: usando esta carta em cada set faz acumular pontos com a carta seguinte, prolongando as piadas.

É um jogo íntimo e divertido, com a beleza de personagens com características anti-heroicas e relacionáveis. Entre espetáculos exploramos a relação e o passado de Garza e Bonachera, através das atividades que escolhemos após cada turno no bar.

Pixel Art é um dos estilos que mais aprecio, pois lembram-me os jogos antigos com que me iniciei no mundo gaming. As personagens, locais e animações são deslumbrantes e trazem aos dias de hoje aquela nostalgia retro. A música, composta por Paula Ruiz (fingerspit), é maravilhosa e desempenha um papel fundamental em aglomerar todos os aspetos que compõem cada jogo.

Todos os jogos abordam temas modernos da sociedade, como depressão, violência ou discriminação. Embora sejam curtos (de 10 a 90 minutos), vários deles merecem ser jogados novamente, como é o caso de De Tres al Cuarto, Engolasters January 2021 ou Eternal Home Florist. Além dos jogos, há também uma abordagem à arte e conceção de cada jogo, acompanhada de entrevistas com os membros do estúdio.

Somos avisados de antemão que os jogos resultaram de game jams, pelo que têm controlos e interfaces rudimentares, tudo em nome da arte. Ainda assim afirmo, precisamente por serem experiências tão out of the box e com um potencial tão grande, os jogos mereciam ser refinados para ficarem o melhor possível. É pena a carência de mecanismos de gravação de jogo, pois tendo em conta que Essays on Empathy visa um público adulto, é de esperar que este nem sempre tenha disponibilidade para jogar tudo de seguida.

Os contos/minijogos são convites a fazer parte de algo maior e refletir sobre temas tão próximos de muitos de nós. Ainda que com algumas limitações, vale a pena mergulhar nestes ensaios.

Lista de Jogos:

1. Underground Hangovers
2. Supercontinent Ltd
3. Behind Every Great One
4. Eternal Home Florist
5. The Bookshelf Limbo
6. Zen and the Heart of Transhumanism
7. Engolasters January 2021
8. 45 A Vivid Life
9. Dear Substance of Kin
10. De Tres al Cuarto