No universo dos videojogos, revisitar um título adorado através de uma edição remasterizada pode ser comparado a folhear um velho e querido romance, onde cada cena se desdobra como uma passagem bem conhecida, embora ligeiramente alterada. Este é o ambiente que rodeia "Another Code: Recollection", um jogo que une as narrativas de "Another Code: Two Memories" e a sua sequela "Another Code R: A Journey into Lost Memories". Lançado para a Nintendo Switch, esta coleção procura preencher o espaço entre duas gerações de jogadores, melhorando os aspetos visuais e interativos dos originais. No entanto, como muitas vezes acontece com histórias recontadas, o encanto da nostalgia às vezes luta contra a luz crua das expectativas modernas.
Trailer
A aventura começa com "Another Code: Two Memories", onde guiamos Ashley, ao receber uma carta enigmática do seu pai, que se julgava estar morto. Esta revelação leva-a à isolada Ilha Blood Edward, repleta de puzzles envoltos em mistério. À medida que Ashley desvenda os mistérios da ilha, a narrativa transita suavemente para "Another Code R: A Journey into Lost Memories", onde ela revisita o Lago Juliet. Este novo cenário está carregado de ecos do passado e mistérios familiares que continuam a saga da descoberta e enfrentamento de desafios pessoais e sobrenaturais, tecendo uma história que combina descoberta pessoal com a presença arrepiante do desconhecido. A promessa inicial de desvendar mistérios através de uma narrativa interativa estabelece um palco aparentemente cativante. No entanto, a execução parece muitas vezes lenta e sem rumo.
Um aspeto de notar desta jornada remasterizada é o ritmo do jogo, fortemente ditado pelos mecanismos ao estilo de novela visual e exploração point-and-click. Estes elementos deveriam, em teoria, complementar a profundidade narrativa, permitindo que o jogador absorva as nuances da história de forma pausada. No entanto, a interação física com o jogo — andar, mover a câmara e até interagir com objetos e personagens — muitas vezes torna-se num teste à paciência. Os controlos, algo fundamental nos jogos modernos, mantêm uma sensação antiquada que é mais frustrante do que nostálgica. É possível ajustar a velocidade da câmara, mas a lentidão que talvez fosse padrão quando o jogo foi originalmente lançado, hoje em dia é difícil de tragar. Como por exemplo, ao interagir acidentalmente com outra personagem ou objeto, não é possível acelerar ou passar o texto à frente; às vezes temos de ver cut-scenes uma e outra vez pelo mesmo motivo.
Visualmente, "Another Code: Recollection" oferece uma mistura de atualizações. Os modelos de personagens foram renovados, fornecendo avatares expressivos que carregam o peso emocional da narrativa. Este melhoramento visual é particularmente evidente durante interações próximas, onde o lampejo de emoções no rosto de uma personagem pode dizer mais do que o diálogo. No entanto, os ambientes muitas vezes traem esses avanços com texturas que parecem retiradas de uma era de jogos anterior. Esta discrepância tem menos impacto no modo portátil, onde o ecrã da Switch perdoa as paisagens menos detalhadas, mas ainda é um contraste que ocasionalmente nos retira da imersão.
A experiência auditiva, composta tanto pela banda sonora quanto pela atuação vocal, eleva a narrativa. As novas faixas musicais percorrem as cenas com uma subtileza que respeita o tom de reflexão do jogo. No entanto, a atuação vocal varia, com algumas performances entre genuinamente envolventes e outras que parecem não pertencer ali. Cenas emocionais às vezes perdem o impacto, não porque a escrita careça de substância, mas porque a entrega falha em capturar as auras de tensão ou tristeza, fazendo com que o diálogo pareça forçado.
Quanto à longevidade, o jogo oferece uma duração de 15h. Talvez um pouco curta para dois títulos em um, numa única jogada, mas é típica para títulos centrados na narrativa. Mas não é o tipo de jogo que tenha valor de repetição. Uma vez que os segredos são revelados, o incentivo para retornar é mínimo, a menos que se deseje revisitar os momentos narrativos em busca de detalhes perdidos ou simplesmente para experiência emocional da jornada novamente.
"Another Code: Recollection" é um jogo de justaposições — entre o antigo e o novo, entre a nostalgia e as expectativas contemporâneas. O jogo indubitavelmente possui um charme para aqueles que caminharam com Ashley em aventuras anteriores, oferecendo um reencontro sentido, embora às vezes moroso, com personagens e mistérios cativantes. Para os que estão a descobrir pela primeira vez, a experiência pode provar ser um tanto frustrante — um desenrolar lento de uma história que poderia ter sido mais envolvente com um toque moderno no ritmo e na interatividade. A narrativa permanece como o ponto mais forte, um testemunho da capacidade duradoura da série de tecer histórias profundas, mesmo que agora mostrem alguns sinais de desgaste.
Em colaboração com Writemosphere.
Review Overview
Another Code: Recollection
Jogabilidade - 50%
Gráficos - 70%
Som/Banda Sonora - 70%
Longevidade - 65%
Narrativa - 80%
67%
Nostalgia numa coleção remasterizada que cativa pela profundidade narrativa, mas por vezes tropeça na mecânicas de jogo desatualizadas
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