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Análise – CLT

CLT é, na sua essência, um jogo experimental, tanto pela sua mensagem como pela sua apresentação. O estúdio Not a Game decidiu pegar em vários conceitos (cartas tarot, Rorschach e temas sexuais) e colocou tudo num formato muito diferente do que é habitual, seja no universo dos videojogos, seja no universo de conteúdo adulto. Tal como o jogo, a análise não terá qualquer tipo de imagens ou assuntos explícitos, mas tendo em conta o tipo de conteúdo, será mais fácil recomendar a leitura para maiores de 18 anos.

A jogabilidade de CLT é enganadoramente simples, onde escolhemos uma de duas cartas disponíveis e a partir daí vamos criando uma narrativa, como se de um labirinto se tratasse. Narrativa esta que é sempre duma perspectiva feminina, onde temos pequenas histórias de experiências sexuais a solo, com um ou mais parceiros. Durante 10 capítulos, ou níveis, temos vários contos que ilustram pensamentos da personagem em questão. O texto que é apresentado não é explicito, no sentido em que de certa forma não é compreensível, ou seja, existe um papel activo por parte jogador de preencher “os espaços em branco”, que neste caso são vários caracteres que estão assinalados e colocados de forma aleatória, mas que implicitamente o jogador consegue perceber do que se trata.

Isto é feito de propósito, numa forma de protesto de “ultrapassar a censura por parte das plataformas de distribuição, que tendem a classificar jogos com temas adultos e/ou sexuais como conteúdo adulto”, segundo a descrição do jogo. Percebo completamente a perspectiva, em que temos de ultrapassar o estigma que jogos são coisas infantis e esta é a única maneira, mas neste caso acho que seria prudente pensar numa solução para jogadores com dislexia e/ou outras disfunções neurológicas. Em termos de jogo em si, temos no máximo 24 cartas (de tarot) para navegar, sendo que ao desbloquearmos a 25ª carta, que não existe, atingimos o clímax e passamos para o nível seguinte. O jogo de memória está no facto de termos cartas para escolher similares a opções anteriores. Podemos construir cada história de várias formas, de certa forma, mas a ideia principal não se altera. Dito isto, a jogabilidade não evolui muito mais de “escolhermos a carta certa” e avançarmos, sendo que não são adicionados quaisquer outros sistemas com o decorrer do jogo, ainda que fique um pouco mais difícil a cada nível que passa.

O visual do jogo também faz jus à ideologia minimalista que o mesmo apresenta na sua jogabilidade, em que temos um visual simples e, de certa forma, clinicamente desconfortável, se esta descrição fizer sentido. Pode muito facilmente ser “transportado” para uma plataforma portátil sem grandes compromissos, pois já existe aqui uma apresentação vertical do conteúdo, sendo que o resto do ecrã é preenchido pelo que estamos a escolher ou por pequenos trechos visuais de algo relacionado com a história apresentada, tudo de forma implícita e sugestiva. Da mesma maneira, temos as ditas cartas, que apresentam borrões de tinta, sem qualquer tipo de definição mas apela à visão do jogador para desvendar o que representa.

No departamento sonoro, temos uma banda sonora muito simples, fazendo lembrar um pouco Massive Attack em certos pontos, andando pelo sombrio e sereno, sem que perturbe o jogador do que está a acontecer no jogo. Da mesma forma que não perturba o jogador, também não é a banda sonora mais memorável, ainda que penso que seja o objectivo por parte do compositor, ser apenas uma soundscape que apenas ajuda a passar a mensagem pretendida.

Como já foi referido anteriormente, o jogo dispõe de 10 níveis, cada um com a sua história e dificuldade, mas nada por aí além, em que possivelmente conseguem passar o jogo em menos de uma ou duas horas, se quiserem ver as várias opções que cada história pode contar. Mas depois de passar o final, não existe muita razão para voltar a jogar o título tão depressa, sendo que este é apresentado como uma experiência alternativa.

É difícil recomendar CLT de tão nicho que é, mas penso que seja um título que dá um passo importante para os videojogos começarem a ser vistos com um olhar mais abrangente, tanto de fora como da própria indústria, principalmente em Portugal onde ainda existe a ideia que jogos são apenas para crianças, excepto quando influenciam negativamente adolescentes ou adultos. Ainda que seja um título experimental, com um preço tão reduzido têm aqui uma nova experiência narrativa que poderá ser exactamente aquilo que procuram, sendo que a jogabilidade também poderá interessar a quem gosta de jogos com histórias diferentes e mecânicas de memória.

█ F.S.

Análise – CLT

CLT está disponível no PC via STEAM® e Itch.io. Para mais informações, visita o website oficial.

CLT é, na sua essência, um jogo experimental, tanto pela sua mensagem como pela sua apresentação. O estúdio Not a Game decidiu pegar em vários conceitos (cartas tarot, Rorschach e temas sexuais) e colocou tudo num formato muito diferente do que é habitual, seja no universo dos videojogos, seja no universo…

CLT (PC)

Jogabilidade - 65%
Gráficos - 70%
Som / Banda Sonora - 70%
Longevidade - 60%

66%

Medíocre

É difícil recomendar CLT de tão nicho que é, mas penso que seja um título que dá um passo importante para os videojogos começarem a ser vistos com um olhar mais abrangente. Ainda que seja um título experimental, com um preço tão reduzido têm aqui uma nova experiência narrativa que poderá ser exactamente aquilo que procuram, sendo que a jogabilidade também poderá interessar a quem gosta de jogos com histórias diferentes e mecânicas de memória.

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Filipe Silva
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